Normo-Parkinson (em construção) 

DP: incompetência, ignorância ou conveniência?

DP: incompetência, ignorância ou conveniência?

(desabafo de um dia em que tudo deu errado)     

      Alguma coisa não faz sentido nesta história: o médico inglês James Parkinson descreveu, em 1817, o que seria denominado em sua homenagem “Doença de Parkinson”. Em 1817! Lá se vão quase 200 anos e o que se tem de concreto para tratar doença? Nada. Comparemos com algumas outras. A AIDS, por exemplo, tem menos de 50 anos. Não tem cura ainda, é verdade, mas tem uma linha de tratamento bem definida: o chamado “coquetel” tem objetivos e focos de ação bem definidos e a melhoria na qualidade de vida dos doentes é visível. O câncer, igualmente multicentenário como o Parkinson, tem terapias com foco e ação claros – considerando-se os efeitos colaterais, o índice de cura longe dos 100% ou mesmo a ineficácia em certos tipos. Mas tem-se um norte. E sobre o Parkinson?

      Somente na década de 1950(123 anos depois!) o cientista sueco Arvid Carlsson descobriu a famosa levodopa – o precursor metabólico da dopamina. Desde então nada de novo... Muita propaganda se faz: rasagiline, selegilina, pramipexol, entacapona, amantadina... Mas nada de novo. São todos medicamentos que orbitam a levodopa – para durar mais, degenerar-se menos, mas sempre a levodopa. Parafernálias eletrônicas(neuroestimuladores) para reduzir maus efeitos da (sempre)levodopa. E mais recentemente a suposta nova versão da(velha) levodopa, que numa versão de liberação mais lenta(reduziria as flutuações do efeito).

     A pergunta fundamental é: por que as células produtoras de dopamina morrem? Muitas correntes, nenhuma resposta. Como bloquear esta morte? Ninguém sabe. E como reverter este quadro? Nenhuma ideia(a não ser a terapia das células-tronco, mas esta se aplica virtualmente a todas as doenças!). Ironicamente, gastam-se milhões de dinheiros(escolha você a moeda) na descoberta de um diagnóstico precoce da doença. Mas de que adianta diagnosticar a doença precocemente se não se tem como tratá-la? Você conseguiria imaginar um neurologista de posse de um exame abordando um parkinsoniano: “este preciso exame detectou que você está desenvolvendo a doença de parkinson;  este resultado permite-nos informá-lo com segurança que você vai ter  estes e aqueles problemas(...) e, como não há tratamento conhecido, prepare-se para a barra que você vai encarar; mas não se apavore: temos aqui um monte de pílulas que te ajudarão a se sentir menos mau...” Uma piada.

    Milhões de dinheiros. Congressos, fundações, projetos de pesquisa, entidades ditas de utilidade pública e uma só certeza: nenhuma resposta. Seria uma teoria da conspiração da ignorância? Até pouco tempo eu perdia meu tempo lendo artigos científicos sobre o assunto, mas parei ao constatar tratarem-se na maioria de um grupo de especialistas do assunto especificando o óbvio, recusando-se a admitir seu desconhecimento e sem nada a contribuir. Sobre a levodopa então imagine o quanto de blá-blá-blá existe. Trabalhos ditos científicos que qualquer gestor de bom-senso não permitiria se gastasse um único centavo. Mesmo nas publicações europeias e americanas, só pérolas e 99,9% em cima da boa e velha levodopa. É até compreensível que, sendo a levodopa a única opção em terapia, continue-se estudando a dita-cuja. Mas só ela? A única novidade é o projeto do Brasileiro do cientista brasileiro Miguel Nicolellis. Sua proposta é bagunçar a forma unificada com que os comandos fluem pelos neurônios inundados pela torrente de dopamina sintetizada a partir da levodopa. Pois é, será que não é hora de se bagunçar todo o estudo?

     Nas minhas idas-e-vindas pelos meios parkinsonianos, ouvi um dia de uma pessoa conceituada no meio e a quem muito respeito que, considerado o tempo e dinheiro gastos nestes quase 200 anos e o nível desconhecimento sobre esta doença, algo não fechava. Comecei a pensar sobre o assunto e, ponderando-se a indústria  criada em torno da levodopa, dos hospitais, das parafernálias eletrônicas e da própria pesquisa, até que a doença de Parkinson – do ponto de vista econômico – é um belo negócio...

Consumo eterno

     O parkinsoniano está condenado a tomar  levodopa até o último dia. Vamos fazer uma continha básica por mim: tomo ½ comprimido de levodopa a cada 2h. São 9 por dia. Um comprimido de carbidopa/levodopa custa R$0,60 centavos(se a combinação for com benserazida em vez de carbidopa, o custo sobe para R$1,10 por comprimido!). São, portanto R$5,40 por dia – R$ 162,00 por mês – R$1.944,00 por ano. Mas considere que o parkinsoniano nunca toma apenas a levodopa. Para encurtar a conversa: uma média de R$4.700,00/ano por paciente... E eu não ponderei aqui que à medida que o tempo passa e a idade aumenta, o consumo também aumenta. Sem dúvida, um belo negócio.

Deus deve ter sido parkinsoniano

    Uma das poucas drogas utilizadas no combate ao principal efeito colaterais da levodopa – as discinesias -, é Mantidan (cloridrato de amantadina). Sabe como ela foi descoberta? Puro acaso! É... Inicialmente desenvolvida como antiviral foi causalmente ministrada a um parkinsoniano portador de virose... E ele melhorou... É interessante lermos na bula frases lacônicas como “o mecanismo de ação da amantadina não é claramente conhecido...”. Bem que se podia descobrir  um tratamento para  doença mesmo que por acaso..

O custo da mistura do pó

     Dentre as últimas descobertas para aumentar o efeito da levodopa, surgiu uma droga chamada entacapona. Deve, portanto, ser tomada juntamente com a levodopa. Um laboratório farmacêutico bonzinho chamado Novartis resolveu economizar o trabalho de tomarem-se dois comprimidos e pôs todas as substâncias numa única pílula, chamada Stalevo; veja o resultado:

 

- Separados

Um comprimido de carbidopa/levodopa 25/250mg –       R$ 0,90

Um comprimido de entacapona 200mg -                            2,80

Total                                                                               3,70

- Mistureba:

1 comprimido de Stalevo      150mg de levodopa                 5,58 (50 por cento a mais!!).

 

    Pode? Pode.  Será conveniente conservar o status quo da doença? Até que ponto a cura é economicamente conveniente?